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"X - A Marca da Morte" (2022)



Uma característica marcante do subgênero slasher é seu conservadorismo. Pode-se argumentar que sua tendência para protagonistas femininas é um sinal de progressismo em uma mídia tradicionalmente dominada por homens, mas a Garota Final frequentemente apresenta aspectos que a identificarão com um público masculino e heterossexual. Um destes traços é a castidade. Quando sua Garota Final é uma atriz de filmes adultos, você tem duas alternativas: subverter o tropo da ou subverter o gênero fílmico. X - A Marca da Morte se arrisca nas duas opções.


Dirigido e roteirizado por Ti West, X - A Marca da Morte acompanha um grupo de cineastas durante as gravações de um filme pornográfico no Texas de 1979. A equipe, composta por Maxine (Mia Goth), Lorraine (Jenna Ortega) Bobby-Lynne (Brittany Snow), Jackson (Scott Mescudi), Wayne (Martin Henderson) e RJ (Owen Campbell), aluga uma casa na fazenda de um peculiar casal de idosos, que não foi informado sobre as atividades do grupo. Com o avançar das filmagens, o elenco passa a ter problemas com os proprietários do local, que são mais perigosos do que suas frágeis aparências podem sugerir.


Em X - A Marca da Morte, Ti West embarca em um diálogo com o seu público. Com diversos títulos de terror no currículo, o diretor deixa óbvia sua intenção de realizar uma obra que abraça o horror slasher ao mesmo tempo em que retém méritos artísticos. Este não é apenas um filme de terror. É um terror-arte. O personagem de RJ, diretor do filme diegético, espelha esta busca na trama. Este esforço também pode ser observado através das escolhas de direção, que constroem a narrativa evitando lugares-comuns do gênero. A montagem, realizada por West ao lado de David Kashevaroff, se revela um elemento essencial para que o filme alcance este objetivo.


No roteiro, West subverte a peça chave do slasher, a Garota Final. Enquanto este subgênero com frequência vai favorecer uma protagonista virginal, X - A Marca da Morte sequer escala tal personagem. Todas as mulheres aparecem como seres sexuais, com diferentes papeis dentro da trama. Enquanto a juventude de Maxine e de Bobby-Lynne surge como um catalizador de desejo através do escopofilismo e do fetichismo, a decadência do corpo de Pearl tem a intenção de causar repulsa, quase uma punição ao espectador. Em contraste com Maxine, Pearl é uma figura patética, que vive através de um voyeurismo predatório.


Com 1h e 45 minutos de duração, X - A Marca da Morte é cinema autorreferencial que não está livre de críticas mas, ainda assim, constitui uma excelente adição ao slasher contemporâneo.




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