"Invocação do Mal 4: O Último Ritual" (2025)

Quando Invocação do Mal chegou aos cinemas pela primeira vez em 2013, era impossível prever o futuro da produção. O filme teve uma recepção majoritariamente positiva e um retorno gigantesco no investimento, o que levou ao surgimento de sequências diretas e de um universo inteiro, composto por nove filmes, algumas bonecas assustadoras e pelo menos um processo judicial. Doze anos e uma pandemia depois, Invocação do Mal 4: O Último Ritual chega às telonas, marcando o fim da saga da família Warren nos cinemas.

A direção de Invocação do Mal 4 é de Michael Chaves, enquanto o roteiro é assinado por Ian Goldberg, Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick. Neste capítulo, acompanhamos Ed (Patrick Wilson) e Lorraine (Vera Farmiga) em um de seus casos mais famosos, a assombração da família Smurl. Católicos devotos, os Smurl se veem na mira de entidades poderosas após a primeira comunhão de uma de suas filhas. Desesperados, eles procuram a imprensa sensacionalista na esperança de encontrar ajuda. Ed e Lorraine são persuadidos a investigar o caso por sua filha Judy (Mia Tomlinson), que tem uma misteriosa conexão com os eventos.

O Último Ritual aprendeu com os erros de A Ordem do Demônio e investe no que fez os dois primeiros filmes da série interessantes: a conexão emocional com as famílias envolvidas. Passamos tempo com os Smurl e vemos as consequências que a assombração têm na dinâmica familiar. Uma casa alegre e viva vai se transformando em um ambiente de puro terror, onde as crianças têm medo de brincar e as refeições, antes calorosas e movimentadas, se tornam momentos de discussão e lágrimas.

Porém, esse é um filme dos Warren. Ed e Lorraine, mas também Judy e Tony (Ben Hardy). A passagem dos anos deixa sua marca no casal principal, mas traz uma espécie de renovação com Judy e Tony. Expulsar demônios é o negócio da família, e os Warren fazem isso com um olhar humano e simpático para as vítimas. O Mal prospera onde encontra vulnerabilidades, e os Warren são especialistas em fortalecer estruturas fragilizadas.

Invocação do Mal é um exemplo do poder que o cinema têm de construir narrativas que transbordam para o universo real. James Wan pegou um casal no mínimo controverso (as supostas histórias sobre os verdadeiros Warren estão por toda a Internet, para quem quiser ler) e transformou-os em um exemplo de amor e companheirismo. O Ed e a Lorraine de Patrick Wilson e Vera Farmiga formam o casal perfeito. Suas habilidades se complementam, suas crenças se fortalecem, seus olhares revelam verdadeiro amor. O fator “inspirado em uma história real” certamente atrai espectadores, mas essa é uma franquia melhor aproveitada quando ignoramos completamente a realidade.

Quem acompanhou o universo Invocação do Mal não deve sair decepcionado da sala de cinema, mas é possível que sinta a falta de uma verdadeira conclusão. Falta um vilão do cacife da Freira, cujo conceito visual originou seu próprio ramo dentro desse universo. A assombração da casa Smurl deixa muito a desejar quando lembramos da perversão da maternidade que Bathsheba trouxe, no longínquo ano de 2013.

Com 2h15min de projeção, Invocação do Mal 4: O Último Ritual reencena alguns dos melhores momentos da trajetória cinematográfica de Ed e Lorraine Warren, e isso já paga o investimento no ingresso. A evolução na direção de Michael Chaves também ajuda, uma vez que aqui encontramos um filme mais maduro e coerente com seus antecessores. É um agridoce capítulo final, que deixa um vazio onde antes havia Patrick Wilson cantando "Can't Help Falling in Love".