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"Um Herói" (2021)



Vencedor do Grande Prêmio do Júri e o Prêmio François Chalais no Festival de Cannes de 2021, Um Herói vem colecionando prêmios nos últimos dois anos. Dirigido e roteirizado por Asghar Farhadi, que tem dois Oscars de melhor produção em língua estrangeira no currículo por A Separação e O Apartamento, o filme chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 28 de julho.


Um Herói acompanha Rahim (Amir Jadidi), um cartazista preso por causa de uma dívida que não conseguiu pagar. Rahim se depara com a oportunidade de quitar parte de suas dívidas e, possivelmente, convencer seu credor a retirar a queixa, quando sua namorada Farkhondeh (Sahar Goldoost), encontra uma bolsa cheia de moedas de ouro. Rahim decide devolver a bolsa para a dona, mas a situação sai de seu controle e ele se vê obrigado a mentir para proteger Farkhondeh. Eventualmente, sua história começa a ser questionada, e a boa ação de Rahim se volta contra ele.


Através da história de Rahim, Farhadi traz reflexões sobre a sociedade iraniana. As mentiras de Farhadi se iniciam como uma tentativa de preservar a identidade de sua namorada, que poderia enfrentar processos criminais por seu envolvimento com Rahim fora do casamento. A própria premissa da história soa absurda: privação de liberdade por conta de dívidas, que Rahim não consegue pagar por estar preso.


Além destas ponderações estruturais, Um Herói apresenta algumas figuras comuns à diversas comunidades: os espertalhões e burocratas, dispostos a utilizar a história do cartazista como exemplo de suas próprias qualidades, mas que o abandonam à própria sorte assim que sua boa ação se torna impossível de verificar.


Apesar de sua aparente mensagem virtuosa – o protagonista do filme escolhe “fazer a coisa certa” apesar das terríveis consequências pessoais – Um Herói apresenta a trajetória de Rahim como um drama de erros cujo progresso deixa o espectador com dúvidas sobre as ações honradas do protagonista. Devolver a bolsa perdida é a atitude decente, mas as circunstâncias se tornam progressivamente ambíguas, até que o público é deixado com a questão: será que devolver a bolsa foi, de fato, a coisa certa?


Interpretado por Jadidi como um homem de personalidade afável, Rahim sempre tem um sorriso no rosto, mesmo em situações tensas. O sorriso desaparece aos poucos, quando a realidade de sua situação atinge também sua família. Outro destaque é Mohsen Tanabandeh, que dá vida à Bahram, o credor de Rahim. Bahram não aparece como um vilão, mas como alguém cuja irritação e indignação são compreensíveis.


Com pouco mais de duas horas de duração, Um Herói oferece um vislumbre sobre personagens dúbios, comportamentos complexos e tramas intrincadas.



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