“Agora eu me tornei a Morte, a destruidora de mundos”. As palavras do texto religioso hindu Bagavadeguitá ainda ecoam no século 21 na voz de J. Robert Oppenheimer, também conhecido como “pai da bomba atômica”. Desde que esta arma de destruição em massa foi adicionada ao arsenal da humanidade, o planeta vive em constante ameaça de aniquilação. Pode-se argumentar que esta era uma progressão inevitável – mas foi o dispositivo de Oppenheimer que demonstrou para o mundo a potência da bomba atômica, e deu origem a uma nova forma de guerra.
Com direção e roteiro de Christopher Nolan, Oppenheimer acompanha a vida de J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), físico teórico e mentor intelectual do Projeto Manhattan, que levou ao desenvolvimento da bomba atômica. O filme é baseado no livro Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano, de Kai Bird e Martin J. Sherwin.
Oppenheimer é uma obra cinematográfica que demonstra todas as qualidades de seu mentor. Nolan encontra aqui a oportunidade de contar uma história simultaneamente grandiosa e intimista. Oppenheimer é retratado como um gênio atormentado por visões subatômicas e possibilidades até então desconhecidas, e sua genialidade dá origem a uma das maiores tragédias que a humanidade já viu. Oppenheimer alia duas paixões de Nolan: homens complicados e explosões em grande escala.
Sem deixar de lado o storytelling intrincado que marcou a carreira de Nolan, o roteiro se divide em três linhas temporais. A história de Oppenheimer se transforma em um drama jurídico que coloca diversas figuras históricas no banco dos réus, mas poupa o personagem-título. Nolan não quer julgar Oppenheimer, ou sequer entendê-lo. Ele quer apenas contar sua biografia. A longa colaboração entre o diretor e Cillian Murphy se mostra frutífera. Oppenheimer se apoia na atuação de Murphy, que consegue tomar propriedade deste grandioso espetáculo.
O filme também demonstra as fraquezas de Nolan. As mulheres da vida de Oppenheimer têm pouca substância, como se fossem brinquedos que se tornam inanimados assim que seu dono deixa de brincar com elas. Essa característica talvez seja explicada pelo roteiro escrito em primeira pessoa, mas fica a questão sobre o que levou o cineasta a incidir um olhar objetificante tão forte sobre a personagem de Florence Pugh (Jean Tatlock).
Com exatas 3h de projeção, Oppenheimer tem potencial para se tornar o magnum opus de Christopher Nolan, contendo e expandindo todas as características que marcam o estilo do diretor. Uma explosão tão intensa quanto o sol.
Comentários