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Olhar de Cinema: "Upa, Neguinho!" proporciona perspectiva negra através da dança e do cinema

Foto do escritor: Luciana SantosLuciana Santos


Por Thaíse Mendonça*, especial para o Pós-créditos


Upa, Neguinho!, documentário dirigido por Douglas Carvalho dos Santos, mergulha na arte e na trajetória do bailarino quilombola Kunta Leonardo da Cruz. Leonardo cresceu na comunidade Paiol de Telha, primeiro território quilombola titulado no estado do Paraná. Iniciou sua trajetória de bailarino no quilombo, com o grupo Kundun Balê. Veio morar em Curitiba para se dedicar à arte e cursou a graduação em Dança na Unespar.


Foi na universidade que Douglas Carvalho dos Santos, que cursava a graduação em Cinema, conheceu Leonardo e o convidou para participar do filme ainda em 2017. Upa, Neguinho! nasce do encontro entre esses dois criadores negros, que possuem trajetórias distintas e um anseio comum de criar narrativas que valorizem os símbolos e a cultura ancestral dos povos negros através de uma perspectiva não branca. Esse anseio se expressa na construção de um filme que rejeita o olhar "folclorizante" com que a cultura quilombola é tradicionalmente retratada nas narrativas e discursos hegemônicos.


O documentário reúne cenas de interações e diálogos em Curitiba e na comunidade Paiol de Telha com performances de dança criadas por Leonardo e outros três artistas negros (Laremi Paixão, Samuka e Priscilla Pontes). A relação de troca entre os artistas que vemos em cena e entre os que estão atrás da câmera ganha um significado mais profundo à luz da memória de resistência que a comunidade Paiol de Telha evoca. Eles também se aquilombam, em um gesto coletivo de resistência e poesia.


Upa, Neguinho! impressiona pela forma como a linguagem da dança e do cinema são exploradas. As imagens impactam pela beleza, ao mesmo tempo em que nos convidam a buscar novos sentidos no que os corpos em movimentos comunicam.


O diretor realça o movimento e a expressão dos corpos na constituição das cenas, chamada de mise-em-scène no cinema. Na filmagem dos diálogos e performances preparados previamente, a linguagem do cinema é explorada para criar a sensação de movimento. Em um trecho do filme, vemos uma coreografia de Leonardo com uma lona preta que remete ao período em que a comunidade viveu em um acampamento na beira da estrada, antes que o seu direito à terra fosse reconhecido. O cenário em que a coreografia acontece muda: primeiro vemos os movimentos e o corpo de Leonardo em uma paisagem típica da região dos Campos Gerais e depois em um palco escuro. A mudança do cenário, em contraste com a impressão de continuidade que o movimento da dança evoca, remete para a itinerância de Leonardo, seu trânsito entre a comunidade quilombola e Curitiba, e para a própria diáspora africana de seus antepassados.


Com 53 minutos de duração, Upa, Neguinho! é um filme singular na cinematografia paranaense, que se soma aos esforços de outras realizadoras e realizadores negros na construção de novas narrativas que visibilizem corpos, saberes e vozes sistematicamente silenciados.


Serviço

O documentário Upa, Neguinho! será disponibilizado para exibição online, entre os dias 7 a 9 de junho, pelo site oficial do Olhar de Cinema. A locação custa R$ 6.


Mirada Paranaense

Upa, Neguinho! faz parte da seleção da mostra Mirada Paranaense do 11º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba. Além das exibições presenciais, todos os filmes da mostra serão disponibilizados online, entre os dias 7 e 9 de junho.


A mostra existe desde a primeira edição do festival e busca apresentar ao público um panorama da produção audiovisual feita no estado do Paraná, abrangendo filmes de curta e longa-metragem de estreantes e realizadores experientes.


Dois longas fazem parte da mostra. Upa, Neguinho!, do diretor Douglas Carvalho dos Santos, e Pasajeras, da diretora Fran Rebelatto, que acompanha as travessias cotidianas de um grupo de mulheres que vive e se desloca na região da tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina.


Também fazem parte da mostra os curtas-metragens Deus Me Livre, de Carlos Henrique de Oliveira; Esperanza, de Hugo Lobo Mejía; Falta Pouco, de Wellington Sari; O Hábito de Habitar, de Nicolás Pérez; Os Dias Depois, de Thiago Bezerra Benites; Quarentena, de Adriel Nizer e Nando Sturmer; Último Ensaio, de Bruno Costa; e Valentina Versus, de Anne Lise Ale e E. M. Z. Camargo.


*Sobre a autora

Mestre em Cinema e Artes do Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR/FAP), onde desenvolveu a dissertação intitulada "Processo de Criação e Intimidade em Dissenso no Documentário Construindo Pontes (2017) de Heloisa Passos". É especialista em Cinema, com ênfase em Produção pela Unespar e possui graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. É jornalista, com 10 anos de experiência com comunicação sindical e popular.

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O Pós-créditos é uma revista eletrônica especializada na sétima arte. Criada com o intuito de promover discussões e sair do senso comum. Surgimos em 2015 com a proposta de trazer conteúdo cultural relevante para todos os públicos, sem barreiras regionais.

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