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"Não Abra!" (2023)

Foto do escritor: Luciana SantosLuciana Santos

A adolescência é uma grande fonte de inspiração para o cinema de horror. A busca por identidade, a descoberta do mundo e os hormônios à flor da pele rendem memoráveis contos de alerta. Escuridão e sangue aguardam os jovens nas encruzilhadas da vida, e adicionar um assassino ou demônio nessa jornada pode transformar o lugar-comum do terror em uma reflexão, mesmo que superficial, sobre a experiência humana. Não Abra! é a mais nova adição a este glorioso subgênero do terror.


Com direção de Bishal Dutta, Não Abra! acompanha a jovem Sam (Megan Suri), uma adolescente de ascendência indiana que busca se adaptar à cultura estadunidense. Com medo de se tornar uma exilada no ensino médio, Sam se afasta dos demais adolescentes de sua comunidade, incluindo sua melhor amiga Tamira (Mohana Krishnan). Certo dia, durante uma discussão, Sam acidentalmente quebra um jarro que Tamira carrega para todo lado, libertando uma entidade que se alimenta de energia negativa até, eventualmente, devorar sua vítima. Agora, Sam precisa buscar em suas origens uma forma de derrotar esta perigosa criatura e salvar sua família e amigos. O roteiro é assinado por Dutta e Ashish Mehta.


Não Abra! utiliza o conflito de identidade da adolescência para tratar também do choque da assimilação cultural vivido por famílias de imigrantes. Se por um lado há o apego às matrizes e tradições culturais, por outro existe a pressão de se encaixar neste novo lugar, de tornar-se parte dessa nova comunidade. Este confronto é bem ilustrado na relação de Sam com sua mãe, Poorna (Neeru Bajwa). Sam tenta ao máximo se desvencilhar de suas raízes, chegando a americanizar seu próprio nome – Sam é uma abreviação de Samidha. Já Poorna encontra-se no outro extremo, sempre cozinhando refeições tradicionais, celebrando datas importantes do hinduísmo e se comunicando quase exclusivamente em hindi. Esta divergência precisa encontrar harmonia, já que o monstro que assombra Sam tem origem no folclore hindu. Apenas mergulhando em sua cultura, ela conseguirá enfrentar o perigo a sua porta.


Outro tema relevante abordado pelo roteiro de Dutta e Mehta é o racismo casual presente na sociedade estadunidense, aqui direcionado contra Sam e Tamira. Megan Suri ilustra com triste fidedignidade o impacto das micro agressões vividas e presenciadas por Sam. A personagem parece estar em constante desconforto ao lado de suas colegas brancas.


Com 1h40 min de duração, Não Abra! tem uma direção sólida, um roteiro interessante e oferece o trivial de um terror lançado nesta época do ano. Sombras aterrorizantes, possessões demoníacas, obsessões enlouquecedoras. Oferece um complemento com sua reviravolta cultural, mas não se arrisca. Terror prosaico.



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