Com direção de Roly Santos e roteiro de Oscar Tabernise, Águas Selvagens, acompanha o investigador Lúcio Gualtieri (Roberto Birindelli), que aceita um contrato para inquirir sobre um homicídio brutal cometido na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. A medida que investigação se aprofunda, Lúcio se vê no meio de um esquema que envolve assassinatos e tráfico de crianças, e é comandado por uma organização criminosa encabeçada por homens perigosos e influentes na região. Lúcio precisa correr contra o tempo para encontrar uma forma de impedir que estes crimes terríveis continuem acontecendo. O filme é uma coprodução entre Brasil e Argentina e é falado em português e espanhol.
Águas Selvagens é um filme fortemente comprometido com o olhar masculino, em todos os sentidos do termo. As mulheres são predominantemente enquadradas de forma fetichista, sempre aparecendo como objetos do desejo masculino, com uma quantidade generosa de corpos expostos e montados para seduzir e planos-detalhes invasivos. Narrativamente, elas estão em papéis subalternos, servindo homens, esperando pelos homens, provocando os homens, apanhando de homens, resgatadas por homens. Essa passividade tem um resultado ambíguo: ela pode simplesmente exemplificar uma inabilidade de criar e retratar personagens femininas, mas também contribui para o tom sombrio da história. A passividade de mulheres diante de crianças em perigo é, culturalmente, mais assustadora que a ação dos homens que efetivamente ameaçam essas crianças. Porém, a julgar pelo decorrer da trama, esse realmente efeito é acidental. Não há intenção narrativa no olhar masculino dos realizadores de Águas Selvagens. Ele simplesmente só sabe olhar para o corpo feminino desta forma.
Não é que o roteiro de Águas Selvagens não se ocupe em tratar de mulheres e seus “assuntos femininos”. Mas sempre que o faz, volta na relação com o homem e como ele é afetado. Em certo momento, um diálogo se dá sobre o pagamento atrasado da pensão alimentícia devida por um determinado personagem. Tópico polêmico e problema enfrentado por incontáveis mulheres ao redor do mundo. O protagonista prontamente justifica a questão, mostrando ao espectador o “lado do homem” na questão.
Se for possível se afastar do olhar masculino, o filme oferece boas atuações de profissionais de diversos países. Lúcio é um protagonista simpático e a Debora de Leona Cavalli é uma das personagens que merecia mais tempo de tela. Fabian, vivido por Juan Manuel Tellategui, também é um personagem intrigante, já que sua empatia contrasta com comportamentos questionáveis.
Com razoáveis 1h 48 minutos de duração, Águas Selvagens certamente é uma opção interessante para aqueles que não se assustam com um realismo sóbrio (e sinistro) e querem apreciar o cinema latino-americano.
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