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"Até os Ossos" (2022)

Foto do escritor: Luciana SantosLuciana Santos


Em Até os Ossos, a jovem Maren (Taylor Russell) é abandonada pelo pai Frank (André Holland) depois de, impulsivamente, morder o dedo de uma amiga durante uma festa do pijama. Antes de desaparecer, Frank lhe deixa uma pequena quantia em dinheiro, sua certidão de nascimento e uma fita cassete na qual narra outros episódios de canibalismo ao longo da infância de Maren. Sozinha no mundo e munida apenas com o nome e cidade de nascimento de sua mãe, Maren decide procurá-la para entender seus impulsos violentos. Em sua viagem, ela encontra pessoas com instintos similares, como o peculiar Sully (Mark Rylance), e acaba se apaixonando pelo problemático Lee (Timothée Chalamet). A direção é de Luca Guadagnino, e o roteiro, baseado no livro Bones & All de Camille DeAngelis, é assinado por David Kajganich.


Etiquetado como terror por sua representação gráfica de sangue e vísceras, Até os Ossos utiliza o canibalismo para contar uma história de amadurecimento e da natureza complexa dos relacionamentos humanos. O canibal é um ser que só é íntegro através do consumo de outros. Na destruição ele encontra sua plenitude. É o que acontece com Maren, cujo crescimento vem da compreensão de que as necessidades de seu próprio corpo precisam ser atendidas. Essa satisfação é acompanhada de uma dose significativa de culpa, afinal suas ações são condenáveis e seus impulsos devem ser reprimidos. Em Até os Ossos o canibalismo é metáfora para vários tabus, em especial o sexo. Se em Lee Maren encontra um parceiro que vai satisfazer suas necessidades, ela também encontra combustível para sua culpa. Já alertava o poeta: prazeres violentos têm fins violentos.


Até os Ossos reúne um elenco admirável. Taylor Russell oferece um retrato comovente de uma jovem em conflito, tomada pela culpa e pelo medo de si mesma. Chalamet há alguns anos se consolidou como um dos atores mais promissores de sua geração, e torna a cumprir esta promessa com Lee. O Sully de Mark Rylance é esplendidamente abjeto, e Michael Stuhlbarg faz uma aparição um tanto quanto perturbadora.


É possível que Até os Ossos incomode os estômagos mais sensíveis. Entre seus companheiros de gênero fílmico seu gore seria considerado até leve, mas a colaboração anterior entre Guadagnino e Chalamet – Me Chame Pelo Seu Nome – pode atrair espectadores desavisados. Amantes de romance, estejam avisados.


Para além do romance adolescente e das vísceras à mostra, Até os Ossos é uma comovente exploração sobre as dores de crescimento que assombram muitos de nós. 2h e 10min do repulsivo ato de ser humano.



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