Desde O Exorcista, Hollywood transformou a possessão demoníaca em um dos lugares mais comuns do terror, ao ponto de considerar esta uma categoria própria dentro do gênero fílmico. De casas possuídas a animais possuídos, passando por crianças possuídas – sempre eficientes em assustar as plateias mais incautas – a possessão demoníaca é uma das histórias assustadoras mais contadas no cinema. A nova adição ao gênero, com uma guinada feminista, é A Luz do Demônio, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira.
Com direção de Daniel Stamm e roteiro de Robert Zappia, que é baseado na história concebida por Zappia, Earl Richey Jones e Todd R. Jones, A Luz do Demônio acompanha a Irmã Ann (Jacqueline Byers), uma freira que trabalha cuidando de pacientes admitidos em uma escola de exorcistas da Igreja Católica. A Irmã Ann, que tem experiência pessoal com possessões demoníacas, assiste às aulas sem autorização, já que mulheres não podem ministrar rituais de exorcismo. Porém, quando ela se torna alvo de forças malignas, o Padre Quinn (Colin Salmon) decide ensinar os ritos sagrados a Ann, para que ela possa se defender dos ataques do demônio. Ann demonstra talento para ajudar os pacientes afligidos, mas sua fé é colocada a prova quando a jovem Natalie (Posy Taylor) é possuída.
A Luz do Demônio é um filme cujo produto final frustra seu potencial. O roteiro de Zappia falha em oferecer profundidade para seus personagens para além de algumas linhas de diálogo, introduzir situações absurdas sem desenvolvimento e abandona tramas mais interessantes do que aquelas que decide levar a cabo. Algumas decisões de direção também são questionáveis. Por exemplo, no primeiro ato o diretor opta pela utilização de uma câmera inquieta, sugerindo que as cenas vistas por este ângulo seriam a visão subjetiva de algo que ainda não foi revelado ao espectador. Esta câmera, porém, desaparece em algum momento, para nunca mais ser vista ou explicada. O horror de Stamm também deixa a desejar. O diretor, que não é novato no gênero, falha em entregar o mais básico dos jumpscare.
Isso não significa que A Luz do Demônio não tem virtudes. A reviravolta feminista certamente é uma novidade, e a direção de fotografia de Denis Crossan merece destaque. O elenco do filme também faz um bom trabalho, embora seja prejudicado pelo roteiro limitado. Em especial o Padre Dante de Christian Navarro, cujas ações desesperadas não têm suas motivações aprofundadas na tela.
Com razoáveis 1h e 33 minutos de duração, A Luz do Demônio tem qualidades o suficiente para ser uma opção de entretenimento, mas deve deixar os conhecedores do gênero desapontados com sua falta de audácia. Há nas entrelinhas de A Luz do Demônio um filme muito superior que, infelizmente, nunca verá a luz da cabine de projeção.
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