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Foto do escritorLuciana Santos

"Nossa Senhora do Nilo", de Atiq Rahimi, tem nova data de estreia nos cinemas



Partindo das experiências pessoais da escritora tutsi Scholastique Mukasonga, Nossa Senhora do Nilo, dirigido por Atiq Rahimi, traz como cenário principal a escola que dá nome ao filme, um colégio interno católico situado no alto de uma colina para meninas da elite ruandense. Vivendo isoladas do mundo, pouco sabem o que está acontecendo em seu país, até que a realidade bate à porta. O longa chega aos cinemas em 5 de janeiro de 2023, com distribuição da Pandora Filmes. No Brasil, o livro foi lançado pela editora Nós.


O afegão Rahimi, que assina o roteiro com Ramata-Toulaye Sy, trabalha pela primeira vez com um material que não é seu – ele tem em seu currículo filmes como “A pedra da paciência”. Nossa Senhora do Nilo foi premiado no Festival de Berlim de 2020 com o Urso de Cristal da mostra Generation 14plus.


O diretor conta que conhecia pouco sobre Ruanda antes de realizar o longa. “Sabia sobre o genocídio de 1994, uma tragédia que, na minha mente, é como o fratricídio que aconteceu em meu país e começou dois anos antes. Nos dois casos, começou como uma questão política, e, depois, se tornou problemas étnicos, de raça e até de religião.”


Rahimi, que também é escritor, conheceu Mukasonga num evento literário em 2008, e leu Nossa Senhora do Nilo assim que foi originalmente publicado, em 2012, e gostou muito, mas nem desconfiava que pouco tempo depois mergulharia no universo do romance para realizar um filme.


Na obra e em Ruanda, o cineasta conta que encontrou algo que o fascina tanto como diretor de cinema e escritor: a relação entre a violência e o sagrado. “Tanto Ruanda quanto o Afeganistão, nos anos de 1970, estão sob um regime totalitário. Não são as pessoas que decidem o sistema político, mas uma elite e os tecnocratas. O genocídio de 1994 não aconteceu de repente, mas suas origens estão em 1959, quando a monarquia foi deposta, e depois em 1973 com a perseguição às elites e aos intelectuais.


Com dificuldade de encontrar jovens atrizes em Ruanda para fazer o filme, o diretor criou um workshop em Kigali, e rodou o longa no distrito Rutsiro, numa escola católica que ainda mantém alguns edifícios antigos. “Fica no alto das montanhas, e é difícil de se alcançar, mas quando você chega no topo, e vê aquela igreja é impressionante.


Mukasonga conta que seu romance nasceu de um desejo de abordar o tema da discriminação, e a personagem Virginia, no livro e no filme, é baseada em suas experiências. “Mesmo que eu não estivesse completamente ciente disso... Eu me voltei à ficção para colocar alguma distância entre os acontecimentos e eu mesma, do contrário seria muito destrutivo. Mas durante a escrita a realidade acabou se impondo. De uma forma ou de outra, eu tinha que contar essa história.”


Ela também conta que a escolha de Rahimi para dirigir o filme foi perfeita. “Ele é afegão, eu, ruandense, temos muito em comum. Eu também acompanhei cada passo do filme, li diversas versões do roteiro. O que era mais importante para mim, é que fosse filmado em Ruanda, no mesmo contexto do romance.”


Nossa Senhora do Nilo chega aos cinemas brasileiros dia 5 de janeiro.


Sinopse


Ruanda, 1973. Nossa Senhora do Nilo é um conceituado colégio interno católico situado no alto de uma colina, onde garotas são preparadas para pertencer à elite ruandense. Com a proximidade da formatura, essas meninas, sejam elas hutu ou tutsi, compartilham o mesmo dormitório e dividem sonhos e preocupações. Mas em todo o país, assim como dentro da escola, antagonismos profundos ecoam, mudando a vida dessas jovens — e de toda a nação — para sempre. Imagens de um simbolismo profundo fazem alusão à violência genocida que em 1994 tomaria conta de todo o país.

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