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Foto do escritorLuciana Santos

"Não Se Preocupe, Querida" (2022)



Segundo longa-metragem dirigido por Olivia Wilde, Não Se Preocupe, Querida teve sua estreia no Festival de Veneza e, desde então, coleciona manchetes pelas polêmicas de seus bastidores. Uma rápida busca em seu mecanismo de pesquisa de preferência vai resultar em milhares de artigos sobre tensões entre o elenco, críticas à diretora, possíveis demissões ou conflitos de agenda (dependendo de quem conta a história). O discurso em torno do filme é, simultaneamente, benéfico e maléfico. Se por um lado Não Se Preocupe, Querida está exposto a um nível de escrutínio injusto, por outro o filme seria rapidamente esquecido se não contasse com a publicidade viral que as redes sociais lhe conferiram.


Com direção creditada à Wilde, que também assina o roteiro ao lado de Katie Silberman, Não Se Preocupe, Querida acompanha Alice (Florence Pugh), uma dona de casa que se muda com o marido Jack (Harry Styles) para uma comunidade utópica controlada pela empresa de Frank (Chris Pine). Alice é a esposa perfeita, assim como todas as suas vizinhas: ela mantém sua casa impecável, cozinha refeições maravilhosas e aguarda o retorno de seu marido na porta, com uma bebida na mão e um apetite sexual incansável. A vida é perfeita até que uma de suas amigas, Margaret (KiKi Layne), começa a questionar as regras da comunidade e faz com que Alice levante suas próprias questões a respeito de sua realidade.


Não Se Preocupe, Querida é um filme extremamente frustrante. Seu principal problema está no roteiro: a história é pedestre, os diálogos são ridículos, os personagens são superficiais. Inovação não é um pré-requisito para qualidade, porém, a escrita de Wilde e Silberman não apenas recicla narrativas, mas insere sequências obviamente pretendidas como plot twists que nunca são construídas no decorrer da trama e são abandonadas com a mesma rapidez com que apareceram. Qualquer sucesso que o filme alcance se deve aos seus intérpretes, que infelizmente têm pouco com o que trabalhar. Não Se Preocupe, Querida parece ter algo a dizer sobre as expectativas sociais impostas às mulheres, sobre as violências e agressões psicológicas ocultas nos ambientes domésticos, com ênfase no gaslighting, e seu terceiro ato deixa evidente a pretensão de assumir um debate sobre os espaços online que proporcionam o desenvolvimento de culturas masculinas tóxicas. Infelizmente Wilde e Silberman simplesmente não conseguem desenvolver estes temas de forma orgânica no roteiro.


Florence Pugh faz um trabalho excelente com Alice, uma mulher feliz que, aos poucos, percebe que sua felicidade deriva do estado de ignorância e subserviência no qual é mantida. Chis Pine entrega um personagem que, a todo momento, conserva uma aura ameaçadora que certamente se tornaria interessante se o ator tivesse mais material com o qual dar vida à Frank. Há aqui um desperdício imperdoável de Gemma Chan, e Harry Styles parece ter ficado com o pior da repercussão negativa do filme. O artista pode ainda não estar no mesmo patamar de seus colegas de cena, mas está longe de ser um desastre na tela.


Ambientado na década de 50, Não Se Preocupe, Querida tem uma bela produção visual, figurino, maquiagem e cabelo, com cores que trariam um interessante contraste com a atmosfera sombria que o filme visivelmente pretendia alcançar.


Com pouco mais de duas horas de projeção, Não Se Preocupe, Querida reúne quase todos os elementos essenciais para produzir cinema excepcional. Infelizmente o resultado é apenas um fenômeno midiático imediatista, cuja vista deixa a experiência cinematográfica de lado para satisfazer a curiosidade das massas pelo show de horrores das celebridades que aqui aparecem. Pelo menos até que o próximo escândalo ocupe as rodas de conversas.



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